Coalizão e Movimentos Sociais - by Frei Beto
Parte 2
Pressionado pelo paradigma neoliberal, o governo anda obcecado com os índices de crescimento do PIB. Isso é critério de desenvolvimento? Sob a ditadura, o PIB brasileiro cresceu a níveis astronômicos. Nem por isso a nação foi beneficiada, a ponto de o general Médici admitir que "a economia vai bem, mas o povo vai mal".
O mais preocupante é que, no conceito de crescimento dos abastados, importa “anabolizar” o dólar, incrementar as exportações e manter um rígido controle fiscal, reduzindo a capacidade de investimento do Estado, entendida como gasto. Em suma, aos vencedores, as batatas; à turba, as cinzas do braseiro.
Lula foi eleito, nos dois mandatos, por se comprometer a promover o desenvolvimento sustentável. O Brasil não terá um futuro melhor se permanecer refém dos paradigmas neoliberais que consideram mais relevante estocar US$ 80 bilhões de dólares do que investir 6% do PIB na Educação e igual porcentagem na Saúde. E o futuro não será sustentável sem preservar o meio ambiente, legalizar as terras dos quilombos, demarcar as reservas indígenas e respeitar a autonomia do Ministério Público, que vela pelo cumprimento das leis.
Temo que, sem a participação dos movimentos sociais, a coalizão resulte no neopopulismo - a linha direta entre o presidente e o grande credor de sua reeleição, os mais pobres, à revelia das instituições que os representam. Se assim for, o PT terá trocado seu propósito originário de "organizar a classe trabalhadora" por um clientelismo assistencialista que, sem dúvida, rende votos, mas não altera as estruturas arcaicas que impedem o Brasil de ser um país justo e uma nação humanamente desenvolvida.
(*) Frei Betto é escritor, autor de "Treze contos diabólicos e um angélico" (Planeta), entre outros livros
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